31 de dez. de 2007

Auto-mar

Que o frio não passa
Barco algum atraca
Porto algum, tamanha solidão.

Chore não,
Nada mais é pra já.

No relento, a alma,
As horas sem perdão
Riem-se largas, leste a oeste.

Impenetráveis, insensíveis
Crueza, cada vez mais, só
Só o que salva é mesmo afundar.

Desespere não,
Há também luz no fundo;
Basta saber enxergar.

.[Cla Cavalin].

Acredito que, muitas vezes, ninguém é mais responsável do que nós mesmos no processo de criar "traumas" ou certos "contextos" que nos agridam; como quando, por exemplo, fazemos uma auto-critica negativista demais, alimentamos "sonhos" improváveis, impossíveis, especialmente se relacionado a algum senso-comum...
Esse poema, nessa mesma linha de raciocinio, o escrevi num dia triste, de solidão, e o terminei, do mesmo modo, bem pessimista.
No entanto, hoje resolvi mudar isso simplesmente porque sinto essa energia do novo ano me dizendo que ainda há como consertar certas coisas na vida, conquanto haja vida..
brindo a um novo ano.
d-.-b Doors, Blues Magoos, Cream d-.-b

29 de dez. de 2007

Brilho eterno de uma mente sem (muitas) lembranças


Tenho alma boêmia, não nego. Se saio só, tenho a Lua a olhar por mim; eu a contemplá-la, ela a flutuar somente. Hoje está tão melancólica, minguante, envergonhada. Velha companheira, tão bela que é doce e triste. Queria também poder ser assim: 7 dias plena, 14 sorridente, outros 7 despercebida. Sinto que sou 28 dias em 24 horas...

Outra noite sem rumo.
Esqueci os remédios. Não que fizessem muito efeito após quantas-tantas doses.
Esqueci as chaves. Boa hora para ter um caderno na fina luz do corredor. Na verdade, não preciso de muito mais que isso (pelo menos por enquanto).
Desculpe, querido, não lembro nem teu nome, nem qualquer telefone. De que importa? Não há ninguém em casa. Há casa?
Choro de criança no vizinho da frente.
Não lembro muito dos tempos de criança, tenho vaga lembrança da chuva no quintal, no entanto.
Não era um dia de chuva quando nos conhecemos? O que foi mesmo que tu me disseste naquela noite? Qual a data perdida daquele encontro?
Escuto passos no andar de cima.
Por certo não serão os teus...teus passos trilharam caminho para muito longe daqui...
Silêncio. Sozinha. Sóbria, silenciada. Sempre..
Não há loucura, há algo mais perdido aqui...
Aquele sorriso, a voz doce..chama-me de novo, por favor - para que te lembres de mim (só mais essa vez...).
Aquele abraço, o mesmo colo quente...
Me lembro de ti...
Loucura! Como houvera de não lembrar, se tu és mais que inesquecível?
Tu és aquilo que acontece numa vida, num segundo, numa permanência constante; aquilo que carrego estampado nos olhos, nos lábios, nos sonhos.
Tu és ainda mais que eu mesma; eu sou um pouco em ti.-E vice-versa(?)
Mas há essa distância..
Embora estejas longe, estás em mim.
Então eu me lembro... - de ti, de mim, de nós.

.[Cla Cavalin].

28 de dez. de 2007

Fim de Ano


Andei arrumando umas coisas aqui em casa, achei muitas caixinhas cheias de lembranças, lágrimas, suspiros; passados que, no fim, percebi não querer ter revirado.. assim como li certa vez em Bandeira, também tenho medo dessas cartas do passado, cheias de segredos que, de certo, não darão gosto ao emergir; já pertencem ao pó.
Enfim, num caderno desses, achei algumas considerações...

"Quero um dia de sol num copo d'água.. Quem foi que falou isso mesmo?
Não sei mais se o que penso é meu ou seu é dos outros... seríamos todos um só? Os seus, os meus e os nossos (Já ouvi isso em algum lugar...)
No começo, tudo é puro em si. Entretanto, mesmo que se deteriore com o tempo, valeria a pena viver só o começo? Valeria a pena viver só pelo começo?
Acreditar no pior somente quando o pior se apresentar."
.[Cla Cavalin].

Encontrei um dos primeiros poemas que fiz...

"Conhece-te a ti mesmo,
Resguarda0te para ti;
Mostrar-te-á quando convier.

Poderia parecer até redundante
caso a rima solucionasse
àquele que não me alcança."
.[Cla Cavalin].

E um texto que tentei, sem sucesso, retomar...

Conveniência

"Não me importa o quão interessado estejas neste assunto. Embora eu saiba que já não me queres mais ouvir, sabe (tu) fazê-lo, como tantas vezes, porque preciso falar-te.
Sim, eu sei, bem como tu, que não consigo desvencilhar-me da gramática e seus fatores proclíticos, prostrados, prolixos. Peço que não me julgues; afinal, todos temos telhado de vidro.

Para quê me enviaste maldito anel? Pareço-te piada? Está aqui, satisfeito? Célebre mas fúnebre, jaz naquele mesmo anelar a pedra é só e tão solitária. (texto inacabado, inexpressivo, infértil)."
.[Cla Cavalin].

É que às vezes o passado não quer ser (re)mexido, é algo sobre o qual não temos autoridade.
Que venha então o amanhã, para que o hoje seja fim, acabado e imutável; irremediável e irremovível, enfim.
.[Cla Cavalin].

>>> imagem do filme "Elvis Pelvis"... quem o assitiu, entenderá a relação do texto com o mesmo. Quem não assistiu, recomendo.. esse filme é sublime..

Provocação...


Diálogo de olhares

Dança, que te aprecio
Ri, que me delicio
Olha-me, que nos mata...

Ah, tu me provocas
E quão o sabes!

Faz-me prisioneiro
dessas pálpebras semi-abertas
desses lábios saudosos
desse doce odor, desse mal-humor...

.[Cla Cavalin].

*** Às vezes acho as reticências tão provocantes...

26 de dez. de 2007

Eterna-Mente

Eu sabia que tinha isso guardado em algum lugar que não somente na cabeça...minha caixa de poemas é uma das unicas que não temo abrir...
Especialmente hoje, lembrei-me deste:

Eterno

E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!

O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie).
- O que é eterno, Yayá Lindinha?
- Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternávamos
eternissíssimos

A cada instante se criam novas categorias de eterno
Eterna é a flor que se fana
Se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentmento do efêmero
É o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e [nenhuma força o resgata.

é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e [passageiras as obras.

Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um [mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
É tentação e vertigem; e também pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que [uma essência.

ou nem isso.
E que desapareça mas fique esse chão varrido onde [passou uma sombra.

e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma [esponja no caos.

e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

.[Ilmo. Sr. Carlos Drummond de Andrade].

24 de dez. de 2007

Natal, o tal, Não-tal

Floyd, Freud e o Natal
Natal na minha mãe é sempre tempo de confusão: sao 7 tios e suas respectivas 2 ou mais esposas, 16 sobrinhos, alguns agregados e apenas 3 quartos! O mais divertido é, com certeza, ficar vendo fotos e fitas jurássicas na tv do escritório, um monte de primo por cima do outro, bagunça, amigo oculto, musica, violao, bagunça,bagunça =D
O pior de tudo é minha mãe que não consegue ficar quieta, sempre cheia de coisa pra fazer (¬¬) deixa todo mundo louco...
A noite vai avançando, a casa cada vez mais apertada, mais louça, batucada, confusão...bebida, barracos históricos...
Mas não pára por aí...a manhã seguinte, a ressaca que se arrasta até o Ano Novo... Ainda assim, sorrisos, muitos sorrisos e abraços...
Dá saudade...
Natal no meu pai é estranho..todo mundo tá sempre tão cansado, ninguem fica pra conversar, a noite acaba rápido, Floyd me conforta o sono, o dia seguinte é a espera pra voltar pra casa.
Dá muita saudade do Natal na minha mãe.
Mesmo assim, as flores estão em cima da mesa. São flores de desculpa, flores de promessa de que um dia vai melhorar. São bonitas. Dão saudade...


.[Cla Cavalin].

1 de dez. de 2007

(DES)encontros

"Bem-me-quer, mal-me-quer...
Faz-me bem, faz-me mal querer-te assim...
Bem me queres, eu o sei;
talvez não exatamente como eu o quereria
(que tu me quiseres).
Confusa, o sou; o sei.
O seu, só seu; não é meu.

E o que há de se fazer?
Ele me quer para si;
Eu te quero bem;
Tu a queres há tanto;
Dela, nada posso concluir.

Se tu saires do país
e ela entrar para o convento,
Tomara Deus que ele não morra de desastre...
Não me quero casar com o tal J.Pinto Fernandes!"
[Cla Cavalin]

>>>O poema mantem intertextualidade com "Quadrilha", de Drummond. Para ouvir tal poema, na voz do proprio autor, clique aqui, http://memoriaviva.digi.com.br/audio/quadrilha.mp3 link direto do site do memoria viva digital.

>>>um trecho de Hilda Hist bem legal relacionado ao tema...
O Kramer apaixonou-se por uma corista que se chamava Olga. Por algum motivo nunca conseguiam encontrar-se. Ele gritava passando pela casa de Olga, manhãzinha (ela dormia): Olga, Olga, hoje estou de folga! Mas nunca se viam e penso que ele sabia que efetivamente se deitasse com ela o sonho terminaria. Sábio Kramer. Nunca mais o vi. Há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados até o nosso fim. E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.”