4 de jan. de 2010

Caminhando...

Faleceu, ontem, um grande homem. Grande porque era nobre de espírito, simples e humilde, dentre muitas outras virtudes. Muito mais do que títulos muitos, qualificações, certificados e prêmios, possuía ele algo inatestável em uma folha de papel. Possuía a sensibilidade da vida, no jeito de olhar, no jeito de sorrir, no jeito de se emocionar com lágrimas singelas quando falava sobre algo que lhe tocasse.

E o dom de sua vocação. Não conheço pessoa que lecione como ele o fazia. Tudo era desbravador e interessante, simples e fluido, havia um sorriso em tudo que se descobria. "A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". (Paulo Freire)

Infelizmente, não teve a chance de ver um (ou alguns) de seu(s) grande(s) sonho(s) realizado(s); e não tenho certeza de que essas realizações serão possíveis sem que ele esteja presente.

Para mim, o dia perdeu o brilho, só o que resta são as memórias; e pensar que nunca mais poderei vê-lo, ouvir uma explicação ou uma história, é entristecedor. Sempre faltará um pedaço do chão quando eu passar por aquele corredor da Santa Casa.

Imaginava que quando eu já estivesse formada, estabelecida na profissão, passaria ainda na Enfermaria para visitar a todos, dar abraços, e ele estaria lá, de cabelos brancos e óculos, firme e forte como sempre dissera. E de repente, num dia qualquer, no meio das minhas ações rotineiras, deparo-me com esta notícia.

Dizem-me que sou muito nova e que ainda hei de conhecer muitas outras pessoas que me inspirem na vida e na profissão. Sei que isso é verdade, mas nada é capaz de substituir a perda, principalmente a perda de alguém amado por todos e odiado por ninguém.

Faleceu, ontem, um grande homem. Levou consigo seu intelecto, seus sentimentos, suas descobertas e memórias. Deixou para nós uma vida de sabedoria e experiência. Continuamos juntos, todos, divagando, dia após dia, nesta imensidão, neste nosso mundo que transita entre a lâmina do microscópio e a visão do microscopista, entre o que se observa e o que se interpreta, neste caminho vago e tortuoso que é viver e morrer.

Até logo, ilustre professor. Daqui, todos mandamos nossas saudades.

.:[Cla Cavalin]:.