22 de dez. de 2010

Babaquice Sentimental Natalina

via E-mail:

Bom dia. Um feliz Natal para você e todo mundo que for da sua família.
Aliá-se, foda-se você também.
Aproveito e coloco no pacote um próspero Ano Novo.
Beijo enorme.

.[Cla Cavalin].

- Uma autora não cristã, que já perdeu toda sua paciência natalina em meio a filas, engarrafamentos e e-mails cheios de cordialidade natalina e votos de um próspero ano novo.

12 de dez. de 2010

Sobre o Amor Sensorial

Frente à parede ilustrada,
Vejo perfeitamente delimitadas rosas.

Na palma das mãos, meço-as. Analíticas.
Senhora de seus destinos, finjo;
Sei que não lhas tenho a concessão para Sentir.

Analíticas, procuro seus contornos.
Imagino o aroma, o toque, a seda.
Quero ir além, enxergá-las enfim.
E destacar, na beleza de suas imperfeições, a Plenitude.

: Esta é a beleza imperfeita do Humano

E este será o poema mais lindo do mundo;
Pois aqui vive, concreto.
E, frente-a-frente, o Sinto.

.[Cla Cavalin].

7 de nov. de 2010

Risco

"O risco não é só um traço
É a distância entre um prédio e outro
A diferença entre o pulo e o salto
O risco é riqueza e asfalto a percorrer
Pode ser a pé
Pode ser voar
O risco é o bambo da corda solta no ar
Dentro dele cabe cálculo
Cabe medo e incerteza
Cabe impulso instinto plano
O risco é a pergunta te atacando ao meio-dia
É o preço do sonho pra virar realidade
É a voz das outras gentes testando a tua vontade
Aceitá-lo é saber que não existe
Estrada certa
Linha reta
Vida fácil pela frente
Mas que asa
Asa
Asa
Só ganha quem planta no escuro do braço
Essa semente de poder voar."

.[Maria Rezende].

26 de out. de 2010

Sobre viver em Exílio

Viver é....

Esfinge.

impulsos
emoções
vibrações
arte
mente
filosofia
filosofar
literatura
papel
carne e osso
experiencias
risos
lágrimas
arrependimento
compaixão
perdão
eu e você
no meio disso tudo
vidas separadas
e a vontade de juntar.

hoje sei que a esperança é a primeira que morre;
e o sonho, porque é sonho e lindo, é eterno.
Até que a morte nos separe.


estou com tanta saudade dos meus bebês. todos os meus bebês...
o exílio do cotidiano...

.[Cla Cavalin].

29 de ago. de 2010

The best of Lovers

Darling,
fomos felizes.
Tão felizes
que ficou triste
E fim.

.[Cla Cavalin].

3 de jul. de 2010

Damn you joan jett

esse salmão congelado é seu?
está podre, vai para o lixo.
não quero essa bagunça no meu congelador!

olha aí o requeijao caindo!
lave tudo o que sujar
vá lavar esse cabelo!
essa coisa horrorosa.

aleluia mary loved her son so why won't my momma love me?

hoje mais decada de 70 impossivel aqui em casa...

e a classe media dentro de mim continua urgindo
rugindo
rebeldia sem causa
basta olhar o que estou vestindo
há mais de duas semanas
dentro de mim
fuck you!
yeeeah

i know that i'm not an angel
take it or leave it
do whatever you want
to me!

sei que no olho do furacao
voce estara la
sendo judas, servindo de motivo,
estendendo sua mão
sentado sobre a palma da minha.

mas esta loucura um dia acaba
vai ser acabada.
rock responsavel, construtivo
um dia quem sabe, serei.
para viver de classe media
rebelde sem causa.

mas até lá ainda vão rolar
muitos feriados de mim
controlando a loucura
all hail bukowski

.[Cla Cavalin].

15 de abr. de 2010

Um dia na cidade acordada

Hoje acordei.
Inconscientemente, vesti preto.
Hoje está um dia cinza.
Tomara que não chova mais nessa cidade.

Mas mesmo que fizesse sol, vesti preto.

Hoje almocei.
Peguei as malas e cruzei nessa cidade.
Duas vezes. Compromissos.
Conscientemente, vesti luto.
De novo.

Só que desta vez, estou de luto pelo mundo.

Hoje acordei.
Dizem que a gente vive e coleciona memórias.
Mas eu estou colecionando mortos.
Por todos os lados.

Mais um
E mais um
Logo você, logo eu também.
A morte é muito inconveniente nessa cidade.

Reviravolta. Caneta, papel, rock.

Hoje acordei
pra morte.
Não quero mais saber da vida,
Não quero mais saber de ninguém.

Todos estão muito ocupados em seus orgasmundinhos,
Muito preocupados com o que o resto da classe média
hipócrita-enrustida-moderninha vai fazer no fim de semana.
E eu preciso de alguma droga que me dê alegria.

Não quero mais saber nem do que já falei ou do que já fiz.
Porque agora é palavra definitiva e final,
como sempre.
por agora.

Não quero mais saber de amor e de dor.
e de povo e de dor,
e de compromissos e de malas e de saudades e de adeus e de dor.
O amor é a isca da dor.

E eu já tenho pessoas suficientes para perder, ter perdido, perdi.
Perdi o sentido.
E me vomitei do nojo do mundo.

E se eu morrer agora, morri e só.
Porque a morte não dói em quem partiu.
E também não cabe nos meus textos prolixos.

Que chore quem ficar vivo.
Que chore quem ainda tiver dignidade.
porque eu já cansei de perder a minha
dia após dia
nessa cidade que o homem inventou cinza.

.:[Cla Cavalin]:.

4 de abr. de 2010

A moda da vez

Agora serei poeta-pílula
E vocês vão ter que me engolir

.:[Cla Cavalin]:.

Cacaso
Criacaso
Causa
Efeito.

.:[Cla Cavalin]:.

Tudo na vida depende da dose.
Manda mais uma pra mim, dupla!

.:[Cla Cavalin]:.

Saudade de Julieta
da sua teta e da sua --------------------------------------sineta

.:[Cla Cavalin]:.

Humor,
Interlocutor

.:[Cla Cavalin]:.


3 de abr. de 2010

Canto dos Malditos

Solteira.
Não sou escravo de ninguém, ninguém senhor do meu domínio.
Balela. Quem não vende isso como Liberdade?

Sozinha.
A procura é inútil e arrogante
porque não há como ser o que alguém precisa ou procura.

Solidão.
De bar em bar, de beco em beco, me bebo de boba.
A cidade é cruel, e também suas gentes.

Sinto um não sei bem o quê, surgido não sei de onde,
e também não sei como, mas diferente de Drummond.
Garçom, me vê um copo de qualquer coisa.

Qualquer coisa assim que nem tristeza.
Porque hoje, nesta sexta feira, feriado de solteiros, como de costume,
A vida vomitou-me de mim.

.:[Cla Cavalin]:.

29 de mar. de 2010

mudança

ok, vamos la...
o 3x4 nasceu da literatura, e pretendo mante-lo nesta guia.
Hoje encontrei um caderno antigo com muitas poesias, rascunhos, etc. É difícil reler esses textos e não sentir vergonha (um pouquinhozinho que seja).
Explico: eu não sou nenhuma clarissa drummond de andrade, não tenho grandes obras, textos maravilhosos e também não cultivo a idéia de ser aclamada pela crítica - principalmente porque a maior crítica é sempre minha, e sei que nunca irei agradá-la completamente. Daqui se origina a vergonha.
Minha grande conquista imediata é viver o dia, chegar em casa e ver derrotado o leão daquele dia. os planos futuros, cultivo-os com muito carinho e sonho.
Me vejo grisalha na cadeira de balanço, vendo os netos brincarem, crianças sorrindo, casa cheia, almoço de domingo, a alegria dessas pessoas imaginárias me preenche, quase satisfaz, e sou também alegre então.
São pessoas imaginárias, de cores tão reais - posso sentir a seda dos cabelos, admirar o sol acalentando seus rostos, definidos e sorridentes. Todos os cantos da casa foram pensados para trazer conforto e bem-estar, tanto a eles quanto a mim, que observo, sempre.
Meu poder de observação é intenso e constante, mas não do tipo doentio; muito pelo contrário, cultivo o ato de observar como o descobrir de um acontecimento ilustre, admirando o que vejo, a cada nova revelação, conforme as circunstâncias vão se apresentando, e por vezes, conforme (tento) intervir neste observatóriopassadopresentefuturo.
O julgamento não é moral. (pior,) É literário. Tudo é literário.
Não faço literatura de protesto, com veia política. Não sou a voz de um grupo, de determinado segmento, ou de uma nação. Esta não é minha vocação, e há artistas que realmente se dedicam e são maravilhosos nisto que fazem.
Na verdade, não sei muito bem o que faço; só sei do que não faço e do que não gosto, e somente isto significa, para mim, que amadureci neste sentido. Diferentemente do caderno antigo que encontrei, hoje, 4 anos após a primeira pedra, a primeira poesia, chego à folha em branco com um direcionamento maior, traçando melhor o objetivo das minhas palavras ao serem lidas.
Isto me deixa extremamente contente e segura, na verdade. Por outro lado, um tanto saudosa; como se quisesse rabiscar desenhos com o traço de uma criança de 5 anos e, depois de tanta técnica, simplesmente não mais poder alcançar a pureza e a singeleza desta inocência ao se iniciar a obra.
Porque tudo é uma obra, e tenho uma gana inesgotável em traduzir tudo o que penso em arte, num sentido amplamente amplo, assim redundante, quando da mesma idéia surgem gestos, textos, desenhos, pinturas, esculturas, projetos, música, sorrisos.
Este é o meu processo criativo - observar, sentir intensamente, pensar intensamente, criar laços, fazer elos, interligar, conectar, maquinar as idéias, desconectar, subverter (não podemos esquecer que sou a burguesa reacionária também); e considero que o criativo é o que me compõe.
Como um elemento cognitivo que dê sentido ao ato de erguer-me sobre estas 2 pernas; sem o qual eu simplesmente estou erguida sobre estas 2 pernas. Mais do que isso até, é como erguer-me sobre estas 2 pernas sem pernas, e dar asas.

OK, um texto metalingüístico, extremamente emaranhado entre o que sou, o que me proponho e o que faço. Por hora, gostei das idéias e da técnica. Mas a crítica nunca pode ser vista como eterna (algo que tenho observado).... rsrsrsrs

.:[Cla Cavalin]:.
____________________________________________________________________
AH...a grande mudança sobre a qual queria falar... a partir de agora, meus comentários particulares sobre os textos, situações e as músicas que ouço estarão na seção de comentários da postagem, só para organizar melhor. Assim, todo o texto da postagem será um único corpo, e o fim do mesmo é anunciado pela assinatura [Cla Cavalin]

2 de mar. de 2010

Vida n.1

Good times for a change
See the life i've had
Could make a good man turn bad

So please please please
let me let me let me
let me get what i want this time...

i haven't had a dream in a long time
So for once in my life,
let me get what i want
lord knows it would be the first time...

[The Smiths]

E o que eu quero?
..
quero você,
de qualquer jeito,
a toda hora,
com qualquer humor;

olhar teus olhos que riem,
sentir teu sorriso na minha pele,
calafrios, pelos e cabelos,
e o vento a me respirar,

então, por favor, por favor, por favor,
me deixa ter você,
só um pouquinho, só um carinho,
nem deus sabe o quão bom seria a primeira vez.

.:[Cla Cavalin]:.

8 de fev. de 2010

Teoria da Gênese

(Até onde vai o poder de um sofisma?)

ok, vamos começar do começo
pensem na gênese..

Adão e Eva = órgão sexual M e órgão sexual F

então, analogamente:
peixe e peixa
sapo e sapa
pássaro e pássara
mamífero e mamífera
tomada e interruptor
fone de ouvido e saída de áudio do mp3
chave e fechadura
nylon e miçangas

pra tudo na vida existe um pininho e um buraco,
e, claro, o resultado que decorre disso..

órgão sexual M e órgão sexual F.
interruptor e tomada.
porco e porca.
cenoura e cenouro.
bode e cabrita.

cenoura e órgão sexual F.
tomada e focinho de porco.
órgão sexual M e órgão sexual M.
interruptor e cenouro.
bode e porca.
órgão sexual M e cabrita.
(cabrita?!?!)

Repito a pergunta... até onde vai o poder de um sofisma? Ainda mais um sofisma polêmico acerca do comportamento sexual e bizarro do ser humano...

ok, pode rir agora.. Já expliquei essa minha teoria antes, assim oralmente, e as reações são as mais diversas (e adversas) possíveis... tem gente que não entende, tem gente que faz cara feia, me xinga, tem gente que ri com vergonha de ouvir "órgão sexual" hihihihihhihi. tem gente que dá gargalhada. tem gente que ainda começa a dar mais exemplos... são os ouvintes de quem mais gosto!

.. Falar sobre sexo é tão simples, posso pensar em tabus muito mais profundos; e quando a gente coloca frases de duplo sentido aí é que fica mais engraçado! Ousadia, bom humor e muito respeito, tem como não ser uma goleada desse jeito? Depois dessa explanação toda, que tal um experimento prático? XD

.:[Cla Cavalin]:.

p.s: ADOROOOO PAPO CALCINHA (multishow)

7 de fev. de 2010

Morte n.1

Minha gente boa, minha gente amiga,
Escrevo agora porque o tempo urge. Pior do que isso, eu estou urgindo, exatamente agora!
Ultimamente tenho me pegado pensando, nas hora mais inoportunas e impróprias do dia, que justamente agora, este seria meu último segundo de vida.
Sabe o que é, na verdade eu não queria morrer, quanto menos agora, com a cachola farfalhando de idéias.
Então, galerinha do bem, venho trazer uma mensagem:
Mamãe e papai: Sem alarde, vos informo que seu passarinho está fugindo do ninho. Entendo o que vocês devem estar sentindo, mas parem de me ligar de 5 em 5 minutos! O passarinho agora está virando o jogo e, se vocês cooperarem, jajá ganharão uma mamãe-passarinha pra tomar conta de vocês, minhas crianças! Então vamos negociar um negócio - vocês se comportem direitinho no trabalhinho, tomem seus remedinhos na hora e obedeçam à tia, que quando eu chegar em casa vou dar um beijinho de boa noite em cada um. Amo vocês!
Irmãozinhos: A vida não existiria sem vocês. Ainda não tem idéia do quão forte vocês são. Quando o fatídico dia acontecer, em que perderão as pessoas mais amadas, sintam a dor de verdade, e somente. Sejam sempre gratos pela enorme chance de terem-na conhecido e amado, principalmente. Não há espaço na vida para amargura e para a culpa quando, na realidade, nada está sob nosso controle. Não se assustem com o medo, somos sempre capazes de botá-lo pra correr, pois não há por que ter medo quando se acredita na reconstrução. Não sei explicar isso que sinto por vocês, de querer ensinar, apoiar, abraçar como um escudo, mostrar o mundo; mas me sinto extremamente responsável por vocês, como se fossem um pouco meus filhos também. E é incrível como vocês me retribuem ainda mais, com um simples olhar, com um carinho, com as palavrinhas pronunciadas erradas por uma vozinha aguda e atrapalhada, sempre carregada dessa singeleza linda de ser criança. Amo vocês, ainda mais do que qualquer outra pessoa no mundo!
Para os amigos, amores, mães, irmãs e irmãos do coração, enfim, todas as outras pessoas, serei no mínimo óbvia, ao dizer o que vocês já sabem: Amo vocês! Muito obrigada por todos os momentos preenchidos de vida e alegria - olhares, conversas, risos, choros, abraços, mãos, beijos, ombros, cochilos, chocolates e biscoitos importados, churrascos, natais... cada um com sua poesia pessoal, me tocou de maneira única, e não esqueço de ninguém, estão todos na minha memória e no meu coração enorme de mãe!
Hmm...eu ia falar mais alguma coisa, mas agora já vou esquecendo... menina! escrever revela muitas surpresas, não sabia que tudo o que estava sentindo caberia em 2 folhas de caderno! palavras, hmpf... queria algum outro jeito mais verossímil de expressar esses sentimentos..
Se eu não morrer agora, vou encontrá-lo no fim de semana e finalmente ter meu veredito... É que eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder, sem engano... e depois conto o resto desta minha história ;)
PS - Mas também se eu não morrer agora, queria ainda me desculpar pela letra praticamente ilegível, está muito difícil escrever no ônibus porque o RJ, pasmem, continua esburacado! sr. prefeito Eduardo Paes, se eu morrer agora pode dormir sossegado porque vou voltar pra te perseguir no sono, palavra de pró-defunta é pra ser levada a sério.


.:[Cla Cavalin]:.

>>> OK, não morri dentro do ônibus...rsrs então aí está o texto na íntegra. Sobre o final daquela história, encontrei com ele no fim de semana, mas, completamente tímida, travei e não consegui dizer o que sentia.. hmmm.. podiam colocar assim no meu epitáfio: Clarissa Cavalin - Viveu intensamente, tanto quanto se permitia. Amava a todos, embora nem todos soubessem. Ok, vai ser mais uma semana ouvindo "é que eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem engano", pra ver se eu ganho coragem ;)
Ah, também queria dizer, antes que me perguntem, ou que coloquem palavras na boca da defunta, que não sonhei com morte nenhuma, não virei vidente, e não tenho a menor idéia se você vai passar de ano ou encontrar o amor da sua vida. Vá estudar, procurar mãe Diná ou o que seja, e não mate esta pobre escritora idiota antes da hora!

1 de fev. de 2010

Cada dia com a sua alegria

Na bancada do meu computador, tem uma foto minha quando criança. Tenho 4 anos e estou sentada no chão, apoiada num sofá, de shortinho azul e regata branca. perninhas esticadas, pés descalços, largo sorriso. Pego o porta-retrato nas mãos. De repente, meu reflexo se destaca no vidro. Tenho 20 anos e estou sentada no chão, apoiada no móvel, de samba-canção azulzinha e regata branca. Perninhas esticadas, pés descalços, dou um largo sorriso... enfim me reconheço. Depois de todo aquele drama adolescente pela busca da identidade, enfim me reconheço. Caramba! 16 anos depois, me encontrei de novo e fiquei tão feliz, como há 16 anos não sabia o que era. Tem gente que já passou da idade e ainda não sabe viver... Ganhei o dia com minha pequenina descoberta! .:[Cla Cavalin]:.

4 de jan. de 2010

Caminhando...

Faleceu, ontem, um grande homem. Grande porque era nobre de espírito, simples e humilde, dentre muitas outras virtudes. Muito mais do que títulos muitos, qualificações, certificados e prêmios, possuía ele algo inatestável em uma folha de papel. Possuía a sensibilidade da vida, no jeito de olhar, no jeito de sorrir, no jeito de se emocionar com lágrimas singelas quando falava sobre algo que lhe tocasse.

E o dom de sua vocação. Não conheço pessoa que lecione como ele o fazia. Tudo era desbravador e interessante, simples e fluido, havia um sorriso em tudo que se descobria. "A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". (Paulo Freire)

Infelizmente, não teve a chance de ver um (ou alguns) de seu(s) grande(s) sonho(s) realizado(s); e não tenho certeza de que essas realizações serão possíveis sem que ele esteja presente.

Para mim, o dia perdeu o brilho, só o que resta são as memórias; e pensar que nunca mais poderei vê-lo, ouvir uma explicação ou uma história, é entristecedor. Sempre faltará um pedaço do chão quando eu passar por aquele corredor da Santa Casa.

Imaginava que quando eu já estivesse formada, estabelecida na profissão, passaria ainda na Enfermaria para visitar a todos, dar abraços, e ele estaria lá, de cabelos brancos e óculos, firme e forte como sempre dissera. E de repente, num dia qualquer, no meio das minhas ações rotineiras, deparo-me com esta notícia.

Dizem-me que sou muito nova e que ainda hei de conhecer muitas outras pessoas que me inspirem na vida e na profissão. Sei que isso é verdade, mas nada é capaz de substituir a perda, principalmente a perda de alguém amado por todos e odiado por ninguém.

Faleceu, ontem, um grande homem. Levou consigo seu intelecto, seus sentimentos, suas descobertas e memórias. Deixou para nós uma vida de sabedoria e experiência. Continuamos juntos, todos, divagando, dia após dia, nesta imensidão, neste nosso mundo que transita entre a lâmina do microscópio e a visão do microscopista, entre o que se observa e o que se interpreta, neste caminho vago e tortuoso que é viver e morrer.

Até logo, ilustre professor. Daqui, todos mandamos nossas saudades.

.:[Cla Cavalin]:.