15 de abr. de 2010

Um dia na cidade acordada

Hoje acordei.
Inconscientemente, vesti preto.
Hoje está um dia cinza.
Tomara que não chova mais nessa cidade.

Mas mesmo que fizesse sol, vesti preto.

Hoje almocei.
Peguei as malas e cruzei nessa cidade.
Duas vezes. Compromissos.
Conscientemente, vesti luto.
De novo.

Só que desta vez, estou de luto pelo mundo.

Hoje acordei.
Dizem que a gente vive e coleciona memórias.
Mas eu estou colecionando mortos.
Por todos os lados.

Mais um
E mais um
Logo você, logo eu também.
A morte é muito inconveniente nessa cidade.

Reviravolta. Caneta, papel, rock.

Hoje acordei
pra morte.
Não quero mais saber da vida,
Não quero mais saber de ninguém.

Todos estão muito ocupados em seus orgasmundinhos,
Muito preocupados com o que o resto da classe média
hipócrita-enrustida-moderninha vai fazer no fim de semana.
E eu preciso de alguma droga que me dê alegria.

Não quero mais saber nem do que já falei ou do que já fiz.
Porque agora é palavra definitiva e final,
como sempre.
por agora.

Não quero mais saber de amor e de dor.
e de povo e de dor,
e de compromissos e de malas e de saudades e de adeus e de dor.
O amor é a isca da dor.

E eu já tenho pessoas suficientes para perder, ter perdido, perdi.
Perdi o sentido.
E me vomitei do nojo do mundo.

E se eu morrer agora, morri e só.
Porque a morte não dói em quem partiu.
E também não cabe nos meus textos prolixos.

Que chore quem ficar vivo.
Que chore quem ainda tiver dignidade.
porque eu já cansei de perder a minha
dia após dia
nessa cidade que o homem inventou cinza.

.:[Cla Cavalin]:.

2 comentários:

Cla Cavalin disse...

''tirando o que está errado, todo o resto tá tudo certo.''
- Luís Edimundo Cavalin (1956-2010)

não tem como viver sem você, é difícil até sobreviver.

Cla Cavalin disse...

gostei da técnica, gostei de vomitar tudo nesse texto. toda a revolta. 2010 está sendo um ano preto.

frases diretas, muitas ênfases e jogos semânticos, queria que o texto lido soasse cru e maldito, tal qual meu peito.

d-.-b johnny cash, bob dylan.